Após 25 anos de prática clínica, há uma verdade que se tornou muito clara para mim: os bons cuidados de saúde são uma parceria.
Falamos frequentemente sobre como os médicos, os dentistas e as clínicas podem melhorar, mas raramente questionamos o outro lado da equação: o que é que significa ser um bom paciente?
Não se trata de culpar – trata-se de reconhecer que a relação médico-paciente funciona melhor quando ambas as partes contribuem. Quando cada pessoa compreende o seu papel, os cuidados tornam-se mais fáceis, a confiança aumenta mais rapidamente e os resultados melhoram.
O meu Ikigai na medicina dentária
Há pouco tempo, revisitei a filosofia japonesa do ikigai – a ideia de encontrar um objectivo e um equilíbrio na vida. Para mim, a medicina dentária nunca foi simplesmente gerir uma clínica lucrativa. O meu objectivo – o meu ikigai – é criar um ambiente onde o stress é baixo, a confiança é elevada e o trabalho que fazemos muda verdadeiramente a vida dos pacientes.
Isto significa garantir que a minha equipa e eu levamos a melhor versão de nós próprios para cada consulta. Mas também significa ajudar os pacientes a compreenderem o quanto a sua própria abordagem pode influenciar os seus cuidados.
A ciência por trás disto
Não se trata apenas da minha opinião. A meta-análise de 2014 na PLOS ONE analisou 13 ensaios clínicos aleatórios e concluiu que uma relação positiva e de confiança entre o paciente e o médico melhora significativamente os resultados em termos de saúde, especialmente em casos crónicos e complexos.
Por outras palavras: a bondade, a abertura e a colaboração não são apenas agradáveis de ter – fazem parte do tratamento.
Os pacientes não são todos iguais
Os pacientes vêm de todos os estratos sociais, e essas diferenças afectam os cuidados de saúde de forma real:
- Rico vs. com dificuldades financeiras
- Educado vs. mal informado
- Mente aberta vs. resistência
- Saudável vs. doente crónico
- Calmo vs. ansioso
- Local vs. longa distância
- Educado vs. mal-educado
- Transparente vs. evasivo
- Respeitoso vs. arrogante
- Confiável vs. não confiável
Não se trata de juízos de valor – são realidades. A forma como um paciente comunica, ouve e participa pode tornar o tratamento colaborativo e fácil… ou tenso e difícil.
E isto não tem nada a ver com os desafios que o caso clínico em si possa apresentar. Alguns casos podem ser fáceis de resolver para o médico, mas devido ao carácter complexo do paciente, o caso torna-se imediatamente mais difícil.
Um paciente educado, pontual, honesto e que confie no processo terá quase sempre uma melhor experiência, mesmo que o caso clínico seja mais difícil – não porque seja favorecido, mas porque uma boa comunicação gera melhores cuidados.
Porque é que a conexão é importante
Na prática privada, nem todos os pacientes são adequados para todas as clínicas. Não se trata de arrogância, mas sim de proteger o ambiente que permite a prestação dos cuidados de saúde.
Os cuidados de saúde não são um balcão de fast-food. É uma parceria baseada na confiança, no respeito e na responsabilidade mútua. E tal como os pacientes podem escolher o seu médico, os médicos também têm a responsabilidade de escolher os pacientes que melhor podem servir.
Dez dicas para a sua primeira consulta
Se quer tirar o máximo partido dos seus cuidados, estas sugestões podem ajudar:
1. Encare a primeira consulta como uma conversa, não como uma transação.
Trata-se de compreender as suas necessidades e criar confiança, e não apenas de obter um preço.
2. Evite pedir preços detalhados por telefone.
Cada caso é diferente – o custo depende da complexidade, do tempo e do risco.
3. Traga os seus exames para a consulta, em vez de enviar longos e-mails com antecedência.
O contexto é importante e podemos discuti-los adequadamente frente a frente.
4. Fale abertamente sobre qualquer problema médico ou psicológico.
Só podemos adaptar o tratamento se soubermos com o que está a lidar.
5. Mantenha a mente aberta durante a consulta.
A medicina evolui constantemente – o que leu online pode já estar desactualizado.
6. Deixe as frustrações do passado à porta.
Se já teve más experiências, vamos começar de novo.
7. Não comece com críticas a outro prestador de cuidados de saúde.
Queremos concentrar-nos nas suas necessidades e não em julgar o trabalho de outra pessoa.
8. Aprenda um pouco sobre o seu médico antes da consulta.
Ler uma pequena biografia ou um CV é um sinal de respeito pela pessoa que o vai tratar. Procure também informar-se sobre a clínica ou o hospital e sobre o seu historial e valores.
9. Fale por si próprio se for um adulto.
Não há problema em ter um companheiro ou familiar presente, mas a sua voz e as suas escolhas devem liderar a discussão, a menos que haja uma razão médica para o contrário.
10. Evite comparar-nos com o preço ou as promessas de outro médico.
Se confia mais noutro prestador de serviços, escolha-o – mas se está aqui, vamos concentrar-nos no seu plano de tratamento.
Além disso, sempre que possível, evite trazer grandes grupos para a sua consulta. Compreendemos que os cuidados infantis podem ser um desafio, mas chegar com várias crianças ou familiares pode criar distracções desnecessárias e stress, quer para a equipa clínica, quer para os outros pacientes. Quando não for possível e tiver de trazer mais familiares para o apoiar, telefone com antecedência e avise a equipa.
Da mesma forma, tenha em atenção os odores fortes – como perfume intenso ou fumo de tabaco persistente – e tenha cuidado com a sua higiene pessoal. Os cuidados dentários e médicos requerem um contacto próximo e uma presença fresca e neutra ajuda a garantir uma experiência mais confortável para todos.
No fundo, o objectivo é criar um ambiente em que o seu médico e a equipa estejam totalmente concentrados em si e genuinamente ansiosos por o receber de volta.
Responsabilidade partilhada
Os bons cuidados de saúde não acontecem isoladamente. O seu médico pode trazer competências, tecnologia e anos de experiência – mas a energia que o paciente traz para o consultório também é importante.
Quando tanto o paciente como o prestador de cuidados de saúde aparecem preparados, respeitosos e dispostos a colaborar, a relação torna-se uma verdadeira parceria. E é nessa altura que os resultados – para ambas as partes – são os melhores.
Se está à procura de melhores cuidados, traga o seu melhor. Nós faremos o mesmo.
*Publicado originalmente no LinkedIn.